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O dia do Arrodeio

 

Até aos anos sessenta do século passado o primeiro de Setembro era um dia de festa para os povos das freguesias da Prainha do Norte e Santíssima Trindade (Lajes do Pico). Festa, se é que assim se pode classificar o ajuntamento que tradicionalmente tinha lugar no Baldio comum aos povos das duas freguesias e que resultava numa verdadeira confraternização. Ali se criavam  amizades que, julgo, ainda perduram.

Era o dia do “arrodeio”. O dia em que os pastores se reuniam para seleccionar os seus gados ovelhuns e deles tirar a lã que, depois de devidamente trabalhada (cardada, fiada e tecida) servia para confeccionar meias, camisas e casacos de agasalho. Primitivamente, até roupa interior!

Os animais eram distinguidos através de um sinal que lhes era feito nas orelhas, quando cordeiros. Cada proprietário tinha o seu e, normalmente, não havia dificuldades ou questiúnculas na separação das ovelhas e dos filhos que as acompanhavam e que haviam nascido durante o ano.

Feitas a escolha e a tosquia, toda a assistência, normalmente algumas centenas, reuniam-se em grupos para os jantares que haviam preparado em casa e, terminado o repasto, por vezes com trocas de pratos tradicionais, eram o tempo destinado às “chamarritas”, com os improvisadores, que bons havia, a despicar o grupo contrário.

Um dia de verdadeira festa campestre, e que era ansiosamente esperado todos os anos. Todavia o arrodeio terminou quando os Serviços Florestais iniciaram a administração dos terrenos baldios municipais da ilha, ou sejam as serras e os ”mistérios”. Dessa administração beneficiaram os Municípios uma vez que passaram a receber uma parte das receitas arrecadas por aqueles Serviços.

Mas, anteriormente, nem sempre era assim. Um século antes, as vereações dos dois concelhos andaram em contendas para a divisão dos baldios, pois ambas queriam aforar ou vender a parte que lhes cabia para saldarem suas dívidas. Tal como agora está acontecendo ao mais alto nível, e não de baldios mas de instituições e património histórico.

Silveira de Macedo escreve que “A questão da demarcação dos baldios na ilha do Pico, é muito antiga: já em 1825 o doutor Leonel Tavares Cabral, então juiz de fora naquela ilha, a pretendeu resolver chegando a ir aos matos com os vereadores das câmaras das vilas das Lajes e São Roque...” (1)

Apesar de diversa contestação, a Câmara das Lajes conseguiu, em sessão de 22 de Junho de 1862,  pôr em arrematação o cabeço do Lendroal que foi arrematado pelo capitão Manuel Machado Soares pela quantia de l.806$000; “sendo o produto da venda  empregado no pagamento de vários débitos da Câmara em atraso”, como refere a acta respectiva.

Na década de sessenta do século passado teve a Câmara de expropriar, no cabeço do Lendroal, uma parcela de terreno onde se encontra uma fonte de água, que foi captada para o abastecimento domiciliário às  Lajes.

1)  Silveira de Macedo,  A. L. – História das   Quatro Ilhas que formam o Distrito da Horta, 1871 – pág. 250.

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